segunda-feira, 5 de setembro de 2016

We're all mad in here


Tenho um certo fascínio pela doença mental. E claro, medo. Mas também respeito e até carinho. Associo-lhe uma certa honestidade e talvez, rebeldia. Uma teimosia em ser-se exactamente o que é, mesmo que caiba mal ou só um bocadinho, ou não caiba de todo, na caixa em que tentamos pôr a condição humana. E quem fez a caixa? Quem é que decidiu (ou decidimos todos) que tínhamos que ter aquela forma e não outra? Borrifando para tudo isso, lá está a doença mental para nos mostrar que para além de todos esses limites ainda somos pessoas que têm uma vida que merece ser vivida, seja em que parâmetros for.

Aceito que possa ser uma visão romântica. Mas é preciso um certo romantismo para encarar alguns cenários de vida muito negros. Ainda assim, é melhor que a alternativa, que é fingir que só existe doença mental dentro dos manicómios ou na vida de uns quantos fracos de espírito que se deixam abater (a vida só é dura para os moles, certo?).

Li hoje que um em cada cinco portugueses sofre de doença mental. Não sei se os números são exagerados, mas entre amigos, colegas e respectivos familiares acho muito difícil encontrar um que não lide com pelo menos ansiedade ou depressão a nível pessoal ou familiar. E isto é o que as pessoas falam mais facilmente. Surtos psicóticos não se comentam porque é demasiado estigmatizado.

Acho curioso que tanto seja investido em descobrir o que se passa nos confins do Universo, povoar outros planetas, programar o ADN, construir robots inteligentes que conduzem sozinhos e façam diagnósticos, mas que paradoxalmente, tudo o que se passa dentro nas nossas cabeças, nos confins de nós, permaneça tão desconhecido. Confessem ou não, maioria de nós tem terror em navegar em mares internos. Talvez fique para outro século, transformar o Cabo das Tormentas em Cabo da Boa Esperança.

2 comentários:

  1. Não sinto qualquer fascínio pela doença mental. Só medo, muito medo. E respeito por quem convive com ela, directa e indirectamente. E orgulho alheio por que a consegue vencer.
    E concordo tanto contigo: era tão importante vencê-la. Infelizmente dá dinheiro torná-la crónica. Quando der mais dinheiro vencê-la que alimentá-la por ser que as coisas mudem...

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    1. Sim, mas também não acho que se deva fazer das farmacêuticas o único culpado, ou culpados sequer. A maioria das pessoas preferem e agradecem ter um comprimido que as permita continuar a funcionar, se possível sem nunca terem de encarar aquilo que as assusta.

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Digo eu de que: